REPORTAGEM - GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA
Texto e fotos: Viviane Teixeira Chaves
Quatorze anos e uma descoberta: grávida de dois meses. Bruna Laís da Silva Monteiro passou por esse drama há seis anos. Ainda cursava a 8ª série, quando descobriu que daria luz a uma criança. Atordoada com a novidade, Bruna pensou em fazer um aborto, mas como descobriu um pouco tarde, o medo de que o filho nascesse com alguma deficiência, foi maior. Diante disso, a adolescente tomou a seguinte decisão: a de assumir a maternidade.
Tendo em vista esse cenário e consciente da importância de se concluir o ensino médio, a Instituto Normal Estadual Carmela Dutra, localizada na Avenida Edgard Romero, em Madureira, criou o “Carmelinha”, escola que vai até a 4ª série e que fica nos fundos do colégio e é aberta para os filhos das alunas e funcionárias do local.
– O Carmelinha foi criado pelo antigo diretor, o professor Geraldo Ribeiro. E eu dou total apoio – afirma, com entusiasmo, o diretor-geral da escola, professor Marcelo da Silva Lisboa.
O Carmelinha foi construído há nove anos. Começou como uma creche, chamada Joaninha, onde apenas os bebês das alunas eram atendidos. O sucesso do projeto fez a escola investir mais. De acordo com a orientadora educacional do Carmelinha, pedagoga Flávia da Conceição Domingos Dias, o número de alunos totaliza 417.
– A procura fez a escola aumentar. Hoje, o número de alunas que têm filhos matriculados aqui se aproxima a 20. Considero essa iniciativa um exemplo para outras escolas. É uma oportunidade para que essas adolescentes concluam o normal e possam, futuramente, oferecer uma vida melhor aos seus filhos. Além disso, a escola só tem a ganhar. O Carmelinha, este ano, tornou-se um colégio de aplicação. Cada aula é assistida por duas normalistas. É uma espécie de estágio para que as meninas tenham contato com a prática – explica Flávia.

Bruna Laís, hoje com 19 anos, é uma das alunas normalistas do Carmela Dutra. Seu filho, Alexandre Monteiro Cavalcante, 4 anos, é um dos estudantes do Carmelinha. A jovem garante que ter um lugar para deixar o filho, é um presente. A mãe precoce se sente segura em saber que Alexandre está no mesmo lugar que ela. Outro motivo que não pode ser descartado é a ótima oportunidade para dar prosseguimento aos estudos, fator que angustiou a menina ao receber o resultado do exame de gravidez aos 14 anos de idade.


– Estudamos no mesmo turno. Isso facilita muito. Uma vez ouvi dizer que a iniciativa do Carmela Dutra incentivava a gravidez. Isso é uma tremenda ignorância. É totalmente o contrário, é um passo para que o jovem não pare de estudar. Eu sou um ótimo exemplo. Se o Carmela não possuísse esse projeto, seria muito provável que eu ainda estivesse em casa, cuidando da minha filha ou com problemas sérios para conciliar os horários dela com os meus. Aqui, também, é uma excelente escola. Vejo minha filha aprender e me sinto segura, porque estou perto – revela.
A situação de Bruna não foi diferente de Elaine. Voltar a estudar depois de ter se tornado mãe, é quase sempre um problema. Bruna acredita que se não tivesse encontrado o Carmelinha, ela teria parado de estudar.
– Para retornar aos estudos, primeiro teria que achar alguém de confiança para ficar com o Alexandre, o que já seria um problema. Com isso, a minha prioridade passaria ser de estudar para trabalhar – afirma.

– Depois que meu filho nasceu, fiquei dois anos sem estudar justamente porque não havia ninguém para tomar conta dele. Consegui uma vaga para ele aqui e o matriculei. Durante todo o ano viemos juntos para escola, o que é muito legal. Mesmo que eu tivesse que pagar uma pessoa para ficar com ele, eu não ficaria tão tranquila. Meu marido e eu ficamos sossegados – explica Magda.
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