sábado, 14 de fevereiro de 2009

MANIFESTAÇÃO ANIMADA PELO DIREITO DE IR E VIR

Texto e foto: José Carlos Moutinho (3º período - EQUIPE ESMERALDA)

O SbqDÁ, para seus integrantes, moradores da Maré e amigos, é mais do que um bloco carnavalesco: é um instrumento de luta política, cultural e educacional, construído por moradores e amigos dos mais diversos bairros do Rio de Janeiro. O “Jiló” pôde constatar tal assertiva durante o emocionante desfile deste sábado (14/02), no complexo da Maré.

Foi visível a alteração da rotina daquele bairro popular, a partir das primeiras batucadas dos tamborins, repiques, bumbos, chocalhos, entre outros instrumentos, momentos antes do início oficial do desfile, para esquentar a galera. Aos poucos, os moradores vão se aproximando para aguardar o início da caminhada. Antes, se deliciam com doces e salgadinhos (feitos na hora) num simpático bar, dirigido por dedicadas e educadas jovens, na esquina da Rua João de Magalhães. Neste local os foliões dão os últimos retoques nas pinturas, ajustam as fantasias e os pequenos galhos de arruda nas orelhas.

A emoção cresce na medida que o desfile evolui e adentra o complexo da Maré, de rua em rua, conclamando: “Vem pra rua morador”. Com alegria estampada nos rostos, os moradores atendem ao chamado, saem de suas casas e ingressam no desfile, outros acenam positivamente e aplaudem o bloco. É um momento de magia, paz e fé de que um Rio de Janeiro diferente é possível. Que um Brasil novo, justo e solidário é possível. As pessoas cantaram, dançaram e pularam por um mundo novo, sem guerras, trabalho para todos e paz.

Para o Sinésio Jefferson, 27 anos, letrista, professor de História e um dos fundadores do bloco, o aviltado direito de ir e vir das pessoas foi um dos motivos para a criação do bloco, em 2005. Tal direito tem sido subtraído da população local, devido aos confrontos entre traficantes de drogas, as milícias e as investidas da polícia. Essa situação de guerra tem afastado as pessoas das ruas. “A decisão de criarmos o bloco, foi no sentido de criar estímulos para as pessoas circularem. Os locais por onde o bloco passa são os mais tensos”. Jefersosn sublinhou que circulação é um direito da cidadania, tanto na Maré quanto em outros bairros. Há dois anos o bloco participa do “Grito dos excluídos”, bem como de atividades com o mundo do samba, entre outras.

O compositor, instrumentista e administrador, Leonardo Melo (Leo), 24 anos, falou a respeito da geografia da Maré. “Nós já tínhamos um grupo de amigos, militantes, pessoas que atuavam em diversas frentes. Esse grupo pensou: podíamos ter um bloco que passasse do Conjunto Esperança até a Marcílio Dias [a Maré compõe 16 comunidades], e devido às diversas dificuldades de circulação entre essas áreas, o desafio do bloco foi ultrapassar essas barreiras. Nesse sentido o pessoal ponderava: será possível? E respondíamos: é possível, se benze, se benze que dá. Assim, essa brincadeira, que começou em 2005, dura até hoje. Desfilamos sempre com uma pegada definida, ou seja, assumir a favela e falar sobre a favela”.

Para a atriz Geandra do Nascimento, 25 anos, que toca repique, é mestre de bateria e cursa Ciências Sociais na UFRJ, o bloco é mais um espaço de encontros, divulgação e diversão. “Nós pegamos as questões sociais e transformamos em uma forma divertida, para atrair mais pessoas e debatermos os diversos temas, como, por exemplo o direito de ir e vir, tanto na favela como em toda a cidade e no país. Nós temos o direito de ir e vir, de circular por onde quisemos”. Ela ressaltou que a presença feminina no bloco tem se destacado.

Mariluce, estudante, 29 anos, explicou que o bloco tem uma Ala dos Compositores, que varia de integrantes e discutem aguerridamente os sambas. Num determinado momento, o bloco aprovou dois sambas, devido a dificuldade de escolher entre um e outro. “Acho importante, também, o bloco como instrumento de luta política, pois a cada momento tentamos colocar várias bandeiras com as favelas e diversos movimentos sociais”. Ela ressaltou que a mídia só divulga notícias sobre tiroteios em morros da Zona Sul, mas não divulgam o problema dos tiroteios [seja pelo tráfico, milícias ou policiais] nas favelas. “Quase não se fala sobre o direito de ir e vir na favela”, disse.

Outra atriz, a Priscila Monteiro, da “Cia Marginal”, estudante de psicologia da PUC, disse que o bloco é um lugar de resistência, pois “apesar de tantas coisas, a gente persiste, não deixando que o bloco morra”. Ela disse que o bloco está determinado a crescer e chamar a população para participar. Lembrou, também, que em determinados momentos, na Favela do Timbau, puderam perceber idosos chorando de emoção com a passagem do bloco.

3 comentários

Anônimo disse...

Vem pra rua morador, a praça é nossa assim como os becos, as vielas e demais espaços, por um mundo sem fronteiras, quer físicas ou psiquícas, vem pra rua morador.


Quer saber mais, visite o blog do Bloco Se Benze Que Dá

Davi Marcos

http://blocosebenzequeda.blogspot.com/search?updated-min=2009-01-01T00%3A00%3A00-08%3A00&updated-max=2010-01-01T00%3A00%3A00-08%3A00&max-results=2

Anônimo disse...

Correção, PSÍQUICAS, rsrsrs

Davi Marcos

leojmelo disse...

Parabéns pela ótima matéria, JCarlos!

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